Mais uma vez vagueio, arrasto-me, numa latência comatosa.
Por momentos vi uma luz, era quente, aconchegante, esperançosa, cativante. Corri de braços abertos, como se da minha sobrevivência se tratasse, para ela, para o conforto e segurança que ela me proporcionava.
Foi então que uma figura celeste apareceu diante de mim, de uma beleza persuasiva, viciante. Uma aura divina a envolvia, mas não uma divindade distante, estava ali, ao meu alcance.
Pegou-me pela mão, levou-me com ela, aqueceu-me o corpo, e o espírito, sarou minhas feridas, periféricas e interiores, trouxe a mim a esperança duma nova realidade, não mais a realidade demente, uma realidade que me retirava do mundo das sombras espectrais.
Durante dias tomou conta de mim, e eu, como criança, me entreguei, de forma ingénua, pura sem saber onde iria parar, simplesmente continuei.
Mas a sua estadia não foi longa, nem curta. Apenas a suficiente para drogar e viciar um homem quase feito, que irracionalmente se deixa levar.
Rapidamente, sem aviso, sem prenúncio da sua chegada, sombras do passado vieram e foram, e levaram de mim o meu anjo.
Como um louco procurei, e finalmente encontrei, mas o meu anjo estava diferente, já não irradiava o calor de outrora, mas uma amena e triste temperatura.
Disse que me fosse, que o meu lugar não era a seu lado, que tinha que seguir pela estrada como o Caminhante da Alvorada.
Antes de se despedir com o um silencioso beijo inexistente, disse-me que a sua amena temperatura sempre me reconfortaria quando estivesse à beira do desfalecimento...
(...)
Já no sombrio vazio enterno, retorço-me como um louco em convulsões, e, em desespero brado ao negrume:
"Porquê?
Porquê Senhoras do Destino?
Porquê?
Porque entrelaçastes vós meu caminho com o de um anjo para depois mo retirares?
Que fiz eu para merecer tal castigo?
Que fiz eu para me ser retirada a candeia que alumiava meu caminho...?"
Estou de volta ao domínio espectral, Senhor das Trevas Etéreas, que não conhecem início nem fim, que eternamente se alimentam das almas dos pobres sofredores, guardando sempre a memória da Tua luz que amenizava minhas misérias.
terça-feira, 29 de março de 2011
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